O Sistema Único de Saúde (SUS) é a única via de acesso à medicina para 71,5% dos brasileiros que não possuem um serviço suplementar dessa natureza. Esse é um dado da Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicada em 2020. Com isso em vista, refletir sobre como alinhar o SUS aos avanços da saúde digital é fundamental para modernizar e aperfeiçoar um sistema que já é referência mundial em saúde pública. Neste artigo você confere cinco vantagens de implementar a telemedicina no SUS e alguns casos onde isso já está sendo feito no Brasil.
Com a pandemia de covid-19, a regulamentação da telemedicina precisou ser ampliada para viabilizar o isolamento social e conter a disseminação do vírus. Desde então, soluções de telemedicina têm se incorporado cada vez mais no cotidiano de médicos e profissionais da saúde.
De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital (Saúde Digital Brasil), mais de 7,5 milhões de teleatendimentos foram realizados, por mais de 52,2 mil médicos, entre 2020 e 2021 no Brasil. Além disso, cerca de 1% desses atendimentos foram essenciais para salvar vidas. Ou seja, 75 mil pacientes foram salvos pelo uso da telemedicina.
Ainda que sua aplicação seja frequentemente associada ao setor privado, a busca pela telemedicina no setor público tem crescido e uma série de benefícios já podem ser observados quando práticas de saúde digital são levadas ao SUS.
Uma das preocupações mais comuns acerca dos avanços tecnológicos na área da saúde diz respeito ao distanciamento entre médico e paciente. Como conciliar o foco na relação humana, essencial à medicina e enfermagem, com as rápidas mudanças da saúde digital e os interesses de um mercado em crescimento vertiginoso?
O primeiro passo é compreender que médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde não são substituíveis por máquinas e algoritmos. A tecnologia deve ser um suporte para garantir mais autonomia e segurança na tomada de decisões do dia a dia desses profissionais. Quem estiver disposto a se atualizar e acompanhar essas transformações, desde médicos a gestores de saúde pública, ganha na saúde digital uma poderosa aliada na sua missão de salvar vidas.
Em 2020, o município de Tarumã, no interior do estado de São Paulo a 457 quilômetros da capital, entrou para a lista de exemplos de sucesso na implementação da telemedicina no SUS. A cidade tem como objetivo chegar ao ano de 2027 com o seu índice de desenvolvimento humano (IDH) entre os 10 melhores do Brasil.
Para atingir sua meta, a prefeitura decidiu apostar em uma solução de telemedicina para focar no aumento da longevidade da sua população. Com a telecardiologia, o sistema de saúde do município passou a emitir laudos de eletrocardiograma com maior agilidade para casos urgentes. Após um ano, o resultado foi uma redução em 45% nas mortes por doenças crônicas não transmissíveis
Os exames de ECG passam por uma triagem feita com inteligência artificial que avalia a emergência e, em casos graves, os laudos médicos são entregues em poucos minutos. Além disso, com a telemedicina o enfermeiro ou médico de plantão pode receber orientações de um especialista cardiologista para estabilizar o paciente até que ele seja encaminhado para uma unidade de atendimento adequada.
O caso do município de Tarumã também aponta para outra grande vantagem do uso da telemedicina no SUS: uma melhor gestão dos recursos.
Investir em inovação tecnológica não quer dizer, necessariamente, aumentar gastos. Pelo contrário. De acordo com um estudo da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Tecnologia da Informação e Comunicação (ABEP), a cada R$ 1 investido em tecnologia da informação e comunicação (TICs), governos economizam uma média de R$ 9,79 no ano subsequente.
O tema tem especial relevância quando tratamos de saúde pública. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), o país gasta R$ 3,83 per capita por dia com despesas de saúde da população. O último levantamento do órgão é referente ao ano de 2019 e mapeou gastos com serviços prestados pelos três níveis de governo — federal, estadual e municipal.
Em Tarumã, a telemedicina no setor público também foi responsável pela redução de despesas com cardiologia (como o deslocamento de pacientes até um especialista, por exemplo) de 30% em 18 meses. Além disso, a implementação foi feita sem necessidade de investimento em novos equipamentos médicos, uma vez que a plataforma de laudos integra com todos os sistemas e equipamentos que já são utilizados no mercado.
Telemedicina e saúde digital são termos amplos que abrangem diversas práticas médicas feitas à distância. Para além da teleconsulta, a gestão de saúde da população de um município, estado ou país através de TICs também está no guarda-chuva do que pode ser feito com a telemedicina no SUS.
O software possibilita o envio de alertas em casos como o aumento repentino de alguma demanda, por exemplo. Essa conexão entre diferentes sistemas e os insights com apoio de algoritmos representam uma economia para o Sistema Público de Saúde na casa dos milhões de reais.
Com a pandemia de covid-19, a importância de se ter todo o apoio possível na vigilância epidemiológica ficou ainda mais evidente. É também através da telemedicina que a identificação e o monitoramento de questões de saúde pública podem ser feitos com mais agilidade e eficiência.
A distribuição geográfica de médicos é um desafio recorrente para países com um amplo território como o Brasil. Nesse quesito, a perspectiva é que a saúde digital ajude a enfrentar esse problema, principalmente quando aliada a políticas públicas que ampliem também o acesso digital da população.
De acordo com o estudo “Demografia Médica no Brasil”, feito pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), o país atingiu o marco de meio milhão de médicos em 2020. No entanto, a distribuição tanto de generalistas quanto de especialistas pelo território está longe de ser igualitária, uma vez que estes estão concentrados nas regiões sul e sudeste.
Ampliar o acesso a serviços médicos especializados para locais que não os possuem é possível com a telemedicina no setor público e privado. Plataformas de teleconsulta e telediagnóstico permitem, por exemplo, que um neurologista localizado em São Paulo avalie o resultado de um exame de eletroencefalograma realizado no interior do Acre.
Por fim, vamos retornar ao primeiro tópico: salvar vidas. Com a telemedicina, é possível digitalizar tarefas manuais repetitivas, encurtar distâncias, triar emergências e prevenir erros técnicos de aplicação de exames. Tudo isso contribui para uma redução significativa do tempo de diagnóstico e início do tratamento, o que pode ser decisivo para o paciente.
Desde a realização do exame até a liberação do laudo, o processo conta com etapas que otimizam a atuação médica e reforçam a segurança dos dados.